2/14/2011

Do Suicídio

Hoje* um cara se matou no meu trabalho, ele entrou no vestiário, amarrou uma corda em seu pescoço, passou a corda em volta da janela, se dependurou e segurou a corda até morrer… Fiquei pensando em que tipo de sentimento leva uma pessoa a fazer uma coisa dessas, o que se passava em sua cabeça? Será que é uma coisa tão distante assim de nós?

Como trabalho em um hospital, há a área da patologia, para onde são levados os corpos, e o corpo desse funcionário foi levado pra lá, e foi deixado em uma maca na primeira sala da patologia, e muitos funcionários foram até lá para ver quem era o morto, quem seria aquele que havia se suicidado. Alguns queriam lembrar quem era, outros confirmar se era quem achavam que era, outros queriam ver como ele havia ficado depois de morto. O que é isso? Que sentimento é esse que nos leva a querer ver uma pessoa que acabou de suicidar?

Fui lá, vi o morto, sensação muito ruim, vi e logo fui embora, não queria ficar ali, mas muitos ficaram lá conversando perto do corpo, lembrando onde o cara ficava, o que fazia, como ele era… e fazendo cara de luto, pena, como se estivessem realmente sentidos com o que havia ocorrido, e talvez estivessem mesmo, talvez não.

Eles diziam que ele tinha cara de mau-encarado, que olhava toda mulher que passava, eu não me lembrava muito dele, nem o reconheci num primeiro momento, depois só me lembrei que era um cara que ficava na porta do vestiário (no qual morreu) olhando as pessoas passarem para ir almoçar, quase todos os dias ele estava ali, e como eu almoço sempre no hospital devo tê-lo visto várias vezes, mas não sei porque não me lembro dele, se eu já cheguei a trocar um “Oi” que seja, acho que não.

Me fez lembrar outro cara, também funcionário do hospital que havia também se suicidado a alguns anos atrás, também enforcado. Desse eu me lembro, sujeito muito gente boa, muito tranqüilo, quando fiquei sabendo que ele havia se matado algo não se encaixou na minha cabeça, até hoje não consigo entender, e acho que nunca irei. Era um cara daqueles com conversa agradável, fizemos um curso juntos dentro do hospital, conversamos algumas vezes, ele era alegre, divertido, não era muito foco das atenções, mas também não passava desapercebido, isso foi o pior, pra mim parecia um cara extremamente equilibrado, e quem pode dizer que não?

Um colega meu comentou: “-Nossa, é muita coragem né?”… Eu queria dizer que não, que é covardia fugir da vida e não sei mais o que, mas diante do fato ali estampado na cara me calei, diante do morto se cala. Covarde? Coragem? Não sei… Apenas uma escolha, difícil e triste escolha de ir embora do mundo por opção.


* Texto antigo, já tem quase um ano que isso aconteceu. Quis postar pra resgatar de um outro blog antigo..

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