4/20/2011

Salve: A história de alfredo


Às 6 da manhã de um domingo qualquer Alfredo acorda. Sente-se estranho, mas não sabe o porquê, senta em sua cama e tenta entender aquela sensação que toma conta do seu corpo. Nunca teve uma ressaca como aquela, não se sentia mal, se sentia simplesmente estranho. Vai para o chuveiro, mas não se arrasta como de costume, anda normalmente com uma sobriedade que é rara às 6 da manhã pra quem acaba de acordar de mais uma noite de esbórnia.

A água cai e ele sente que seu corpo está muito diferente, começa a estranhar seu corpo e sua mente. Passam-lhe pensamentos estranhos pela cabeça, o que seria aquilo tudo? Que música é essa que ele nunca ouviu tocando em sua cabeça sem cessar? Estaria ele ficando louco? Tudo isso passa por sua cabeça antes mesmo de tocar a mão na água pra verificar se está fria ou quente demais.

Finalmente entra debaixo do chuveiro e sente que a água está caindo com uma força desproporcional, como se tivesse embaixo de uma cachoeira dentro de seu banheiro. Passa as mãos no rosto molhado e sente a água deslizar por sua pele, não sabe dizer se aquela sensação é gostosa ou não. Olha para baixo, e percebe que ainda está vestindo seu pijama, e dessa vez se assusta de verdade, considerando a possibilidade de estar com algum problema sério.

Se enxuga e veste uma roupa seca, sente-se melhor. Liga o computador pra ver se esquece aquela besteira. Não há ninguém online, e ele continua incomodado com aquela música.. Que merda! Isso não pára nunca.

Não consegue se concentrar mais do que um minuto naquela porcaria de computador e se deita em sua cama com o violão, quem sabe se ele tentasse tocar aquela maldita música... nada!

Sai de casa e dá de cara com um deserto, vê muitas pessoas, todas parecem estar sofrendo, cada uma de um jeito, cada um na sua dor, cada um em um mundo. De repente Alfredo é tomado por uma sensação tão forte que começa a mover todo o seu corpo e começa a sentir uma grande dor, uma angústia indescritível, começa a lembrar de tudo aquilo que sempre se esforçou pra esquecer, começa a sentir tudo aquilo que ele fez questão de não sentir..

Alfredo resolve caminhar apressadamente no meio de todas aquelas pessoas e passa por um velho que parece ser o único são no meio de todo aquele caos (embora esteja com um chapéu e com um sobretudo vermelho surrado), e então esse velho lhe lança uma pergunta que será definitiva naquele momento:

-Você tem certeza que quer ver o que se encontra do outro lado?

Alfredo não sabe o que responder, se afasta e continua no seu caminho, trombando com várias pessoas no meio daquela multidão estranha e aquela maldita música.

Corre e cai, percebe que todos estão caídos, todos se contorcem, todos sofrem sozinhos suas doenças, cada um em seu próprio mundo desmoronando. -Por que não vi isso tudo antes?

E de repente avista um bebê, um lindo bebê em meio àquele inferno, e o bebê sorri. Alfredo se levanta, está descalço e sem camisa, só aquela velha calça jeans lhe cobre o corpo, ele sente um prazer indescritível, sua mente compreende tudo, seu corpo está leve como nunca, respira um ar tão puro quanto se possa imaginar, sente o sol ameno em seu rosto e ri como nunca havia imaginado rir um dia na vida, outros se levantam, se reconhecem, se olham, se abraçam, riem, choram e confraternizam como uma velha família que se reencontra após uma longa viagem.

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