5/31/2011

Insights - (Parte II)


Se a vida é feita de experiências e toda experiência é no fundo uma experiência de sofrimento, como poderemos ser felizes algum dia nessa existência?

-Espere um pouco, você disse que toda experiência é uma experiência de sofrimento? Como assim?

Sim, toda experiência gera sofrimento no mundo material, se for dolorosa ela gera sofrimento no momento em que acontece e se for prazeirosa gera sofrimento no momento em que acaba, e toda experiência tem um fim.

Gosto muito do budismo, como já falei várias vezes em textos, e pra mim uma coisa que é marcante nessa filosofia é a história de vida de Sidartha Gautama, conhecido como Buda, o iluminado.

Sidartha era um príncipe, e quando nasceu foi levado à um sábio que revelaria seu destino, como era costume da época, e quando o sábio viu aquele bebê disse ao seu pai que ele seria um grande guia espiritual. Seu pai que era rei não gostou nada daquela predição pois queria que seu filho seguisse seus passos e acabou cercando o príncipe de luxos e prazeres, não deixando que ele conhecesse qualquer tipo de sofrimento mundano, nem doenças, nem velhice, somente prazeres.

Já adulto, Sidartha começa a sentir curiosidade sobre o que existe além dos portões do palácio e um dia consegue sair disfarçado e vê pessoas velhas, pessoas doentes, encarando o sofrimento pela primeira vez na sua vida.

Sidartha então percebe a primeira nobre verdade (dukkha):
"Esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimentos; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que queremos é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento."

Ele percebe que a natureza da vida material é sofrimento, e busca a origem desse sofrimento, o que o leva à segunda nobre verdade (Samudaya):
"Esta é a nobre verdade da origem do sofrimento: é este desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir."

Tendo a noção de que o que origina o sofrimento é o desejo, ou apego ao prazer e aversão à dor, busca como seria a cessação do sofrimento, e essa é a terceira nobre verdade (Nirodha):
"Esta é a nobre verdade da cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, o abandono e renúncia a ele, a libertação dele, a independência dele."

E com a consciência de ter que abandonar o desejo para cessar o sofrimento leva à quarta e última nobre verdade (Magga):
"Esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta."

Meu Deus, você pula de paraquedas, vai pra várias festas, bebe, fica com um monte de mulheres e vem me dizer que o caminho correto é o abandono dos desejos materiais?

Ouça jovem Padawan, primeiramente eu não sou Buda, e lembra-se do ínicio de toda essa história? Lembra-se de que Sidartha era um príncipe cheio de luxos, prazeres e tudo o mais que há de "bom" na vida? Pois então... eu acho que temos que aproveitar as nossas experiências de vida, vivê-las com intensidade, o corpo deve sentir esse entendimento racional em todas suas células, só assim eu consigo construir a plena certeza de que esse é o caminho.

Como diz Krishnamurti "A verdade é uma terra sem caminhos.", e segundo Vivekananda: "No futuro haverão tantas religiões quantos forem os homens." E isso significa que cada um é responsável pelo seu caminho e pelo modo que trilha seu caminho. Tudo nos é lícito, porém nem tudo nos convém e o que eu como a prato pleno pode ser o seu veneno, mas como vai você saber sem tentar?

Vamos viver a vida e buscar a todo instante a clareza de que a felicidade é um estado interno a ser compartilhado e não algo conseguido por meio de experiências externas. Amém!

5/30/2011

Insights (Parte I) - O olhar é a luz que SAI do olho


O que nos define como seres humanos?

Se eu fosse responder essa pergunta de forma bem objetiva eu diria que o que nos define é o modo como significamos as nossas experiências vividas.

Não gosto da idéia de ser preso à nada nessa vida, sou um apreciador incorrigível da liberdade, e tento sempre dizer "sim" às oportunidades quando se apresentam, quando tenho vontade e são minimamente viáveis de serem realizadas. Acredito que não existam  modelos confiáveis para nos apegarmos em qualquer instância da nossa vida, e por isso não me prendo à nenhum rótulo.

Eu sempre fui um cara que transitou muito e intensamente por diversos mundos diferentes e tenho experiências desde ir à uma festa da alta sociedade chegando de limosine, até dormir em um prostíbulo horrível no Peru por falta de hotel.. de me envolver com uma garota que pode ser rotulada como a mais patricinha do mundo, e outra que pode ser rotulada como bixo-grila revoltada com a vida, mas descobri em ambas almas lindas e muito mais.

Enfim, o que somos nós? Somos a roupa que vestimos? Somos o que bebemos na balada? Somos o carro que temos (ou não temos)? Somos nossas ideologias, nossas escolhas, nossos amigos?

Acredito que somos um espaço vazio onde ocorrem experiências, e essas vão sendo significadas de acordo com os óculos e moldes que temos para encaixar as pequenas parcelas de "realidade" que se apresenta aos nossos sentidos.

Eu poderia tecer mil críticas à todas as pessoas e grupos com as quais já me relacionei, mas ao invés disso prefiro absorver e aproveitar o que eles me oferecem de bom, e ao oferecer esse olhar, despertar o que de bom há nessas pessoas, e assim despertar o que de bom há em mim pro mundo.

Há uma verdade muito acima da realidade aparente à qual nos apegamos quando decidimos pelos nossos pequenos julgamentos da realidade. Eu acho que todos nós seres humanos queremos e buscamos a felicidade, existem alguns que estão mais perdidos nesse caminho, mas todos nós a encontraremos, porque é a única maneira possível de sermos felizes e livres, quando TODOS os seres forem felizes e livres.

Esses dias, assistindo ao filme "Arido Movie" escutei uma frase que pra mim resume o que eu penso sobre a vida: "O olhar é a luz que SAI do olho!". E aí, qual luz temos lançado sobre o mundo?

(Continua...)

5/25/2011

O nascimento do Deus interior (ou Banda cover de Beatles)


A alguns dias atrás fui à Virada Cultural em SP e foi uma experiência muito foda, em vários aspectos. Mas eu queria relatar particularmente sobre uma das experiências de insight que me ocorreu durante essa viagem.

Primeiramente, vou confessar que eu ando numa fase muito foda em relação à um monte de coisa que eu tenho que resolver e venho postergando a um bom tempo, e essa situação vem me deixando bem grilado e com uma certa angústia (o que acredito que não seja ruim, já que são nesses momentos que se abrem possibilidades de transcendência da vida atual).

Mas voltando, em meio a isso tudo fui na Virada Cultural e passei por algumas experiências internas bem interessantes. Na viagem de ida mesmo tive uns insigths muito bacanas sobre Deus.

Entendo que todos os grandes mestres das maiores tradições do mundo vêm falando basicamente a mesma coisa: -Seja você mesmo! That´s it.

E vários são os motivos pra me fazer acreditar isso:

1- É praticamente consenso que fomos criados por Deus. Temos a natureza divina, portanto tudo o que pensarmos como atribuído às possibilidades de Deus de agir, podem ser extendidas à nós enquanto possibilidades.

2- Há uma constante busca de estados de quietude, estabilidade de energia e diálogo interior (oração, meditação, jejum, silêncio, celibato, penitência) e nesses momentos de quietude e solidão olhamos para dentro e nos encontramos com Deus, ou nossa parcela de Deus. E eu acho que devemos ouvir à esse Deus, que se manifesta em nós, e agir conforme sua vontade, trazendo uma experiência de felicidade e amor pra Deus, que chega até ele através das nossas próprias experiências.

3- Se todos somos um Deus só é fácil perceber que o melhor que podemos fazer é proporcionar felicidade pra uma outra parcela de nós mesmos, ou seja, o outro! Amar ao próximo como a ti mesmo, fora da caridade não há salvação.

4- E se Deus é tão poderoso quanto se diz, acho que deveríamos começar a prestar mais atenção ao que ele nos fala dentro de nós mesmos.

O QUE VOCÊ QUER?
O QUE TE MOTIVA?
O QUE TE FAZ SAIR DA CAMA CEDO?
O QUE TE FAZ SE SENTIR VIVO?

Podemos usar como analogia uma banda cover de Beatles, por exemplo (sendo bem extremo pra ficar simples), em sua maioria são caras bons, que tocam bem mas não captaram a verdadeira essência do que os Beatles quiseram transmitir, que pode ser "seja você mesmo, explore suas idéias, seja criativo".. a mensagem nunca foi: "tirem todas as nossas músicas e tentem se parecer com a gente".

Mas bem, nessa analogia bem caricata acho que dá pra perceber que na maioria das vezes nos apegamos à referências de vida, heróis ou personagens que só copiam o aspecto mais superficial da verdadeira mensagem transmitida. Assim como alguém que é cristão se apegar mais à imagem do sofrimento de Cristo do que na sua busca de servir à Deus, e não a si próprio. Deus não está fora de nós, Deus sou eu e você, eu deixo Deus feliz quando proporciono felicidade ao outro e a mim mesmo por troca.

A felicidade nunca é solitária, ela é sempre compartilhada, e por isso vejo a mensagem muito claramente de ser quem se é no fundo, pois só assim estaremos felizes de verdade e poderemos compartilhar a felicidade com Deus (o Todo!).

Verá que o que é essencial
sempre esteve aí
ponto final.

5/06/2011

Livres II

"A verdade é uma terra sem caminhos" (Krishnamurti)

Vejo pelo menos dois caminhos antagônicos que chegam ao mesmo lugar por estradas bem diferentes, e podem ser opções pra quem quiser admirar essa ou aquela paisagem.

Um deles é o caminho da auto-destruição, que pode ser ilustrado pelo filme "O Clube da Luta", nesse caminho deve-se ir aos limites da falta de sentido da vida, deve-se chegar ao fundo do poço ou como diz Tyler Durden "apenas após você perder tudo é que você está livre pra fazer qualquer coisa".

Somente após chegar à um estado de angústia tal que você não se importe com mais nada na vida é que se chega à grande iluminação desse caminho, que pode ser descrita como uma vida autêntica, fora de padrões, não se importando com as consequências de seus atos, ou simplesmente, a liberdade plena.

Um outro caminho é o caminho de espiritual de auto-conhecimento, no qual você estuda, interpreta e analisa todos os aspectos da vida, tentando encontrar um centro em toda essa complexidade, que no fundo é você mesmo, já que não há nada de subjetivo fora da próprio sujeito que a produz.

Esse caminho leva à percepções a cerca de si mesmo e da própria natureza e chega-se a um ponto tal que, segundo os que passaram por esse caminho (Jesus, Buda e outros), percebe-se que não há um "eu", pelo menos não há um "eu" que possa ser separado de uma coisa muito maior (Deus, Todo, Vazio...) e o que acontece é que a partir dessa certeza interior o sujeito irá agir baseado na vontade desse Deus subjetivo e, por se tratar da vontade de Deus, age sem se preocupar com as consequências de seus atos, já que a vontade de Deus é soberana. Ou poderiamos dizer que o sujeito atinge a liberdade plena.

Mas esses são apenas dois caminhos que pensei agora que levam à uma liberdade plena, mas existem vários outros: o caminho da fé, o caminho do auto-conhecimento, o caminho da análise, da filosofia, do pensamento livre, da doença, da EQM, dos enteógenos e por aí vai...

Ambos os caminhos levam à uma ação com liberdade plena, porém, essa liberdade plena alcançada é apenas o início de um outro caminho, e a partir daí é que iremos agir sobre o mundo de uma maneira transformadora, porque estaremos compartilhando a NOSSA verdade na vida, e assim ajudando a construir um mundo mais livre e verdadeiro.

Livres

Sinto que meu espirito chega à superfície do meu corpo e sou tomado por uma energia divina. Me sinto muito maior do que me acostumei, me conformei ou fui condicionado a ser na realidade ordinária da vida cotidiana.

Sinto um propósito muito maior de vida, que é o de me despertar e despertar as pessoas com as quais eu me encontro na vida para essa realidade interior que é maravilhosa, única e que pertence à todos nós. Não há o que temer!

A "vida espiritual" se é que eu posso chamá-la dessa maneira (pra mim é a que melhor descreve o sentido que percebo nesse momento) é maravilhosa, é grande, é felicidade verdadeira.

Não é preciso muita coisa, não é preciso de nada. Tudo o que importa é amor, pensamento, consciência e verdade. Com esses elementos podemos despertar cada vez mais pessoas para um novo nível de existência nesse planeta, um novo nível que não tem nada a ver com resolver os problemas da mesma forma com que viemos lidando nos últimos séculos, pois muitas das conquistas que alcançamos em todos os sentidos até agora vieram para sanar problemas de ordem prática.

Já faz tempo que a humanidade não precisa mais de resolver problemas de ordem prática, pelo menos não na solução de necessidades humanas básicas. Não que não se deva buscar soluções e inovações tecnológicas que nos levem à descobrir novas ferramentas facilitadoras pra nossa vida material, mas esse não deve ser o foco de toda a busca humana mais.

Por isso não faz mais sentido trabalharmos tanto, fazermos tanto pra sustentar um estilo de vida que está mais do que falido a muito tempo. Devemos cada vez mais explorar ferramentas espirituais, de transcendência da realidade ordinária, para termos acesso à novas formas de organização social, ambiental, familiar e até mesmo individual.

Já é tempo de ser livre! Não precisamos mais de doenças, mentiras, stress, fome, miséria... Passamos dessa fase. Não vê quem não quer. Que pena de quem não percebe isso, que pena dos que ainda são escravos das pequenezas da vida, que pena todos não desejarem ser livres!