4/25/2011

Passeio pela multidão

Caminhava pela rua em meio à uma multidão conversando com uma mulher fantástica a respeito de meditação, concepções de vida, experiências transcendentais e outros tópicos nessa linha. Um assunto vai puxando o outro, começamos a conversar sobre pessoas que optam pelo caminho da fé e acabamos caindo no assunto: hare-krishnas.

Ela me dizia, por notícias que ela tinha de outros países, de como eles são, em certa medida, como os evangélicos em relação à fé e dizem que em alguns lugares do mundo são tão veementes quanto esses últimos quando o assunto é arrebatar fiéis e conseguir alguns trocados.

No meio do assunto, nos deparamos com um cara baixinho com cara de gringo, vestindo uma roupa esquisita. Ele veio, entregou dois livros pra mim e dois pra ela, e começou a conversar com a gente sobre Krishna, sobre sua concepção de realidade, e conversamos até sobre a situação bizarra de tê-lo encontrado bem quando conversávamos sobre o assunto.

Acabei doando um dinheiro à ele, e fiquei com os livros. Mas foi uma experiência fascinante aquela troca que ocorreu entre nós três, desconhecidos e conhecidos, conversando sobre concepções tão profundas quanto se pode haver.
Fim 1.


Mais à frente na noite, estavamos (eu e uns amigos) sentados na grama no meio de uma praça do centro de São Paulo, esperando e olhando o movimento da praça. Passa uma mulher que me prende o olhar, olho seu olho, olho seu corpo e um crucifixo dourado muito bem trabalhado delicadamente debruçado sobre seus (belos) seios me chama a atenção. Ela me olha nos olhos, parece que o tempo pára, ela olha pra mim e diz: "-Jesus ama você!", apontando o dedo em minha direção. Sorrio e aceno com a cabeça. "-Eu sei", queria dizer.. "-Eu(!) amo você!", queria dizer.. não digo nada, mas algo se passou naquele olhar.
Fim 2.

4/20/2011

Salve: A história de alfredo


Às 6 da manhã de um domingo qualquer Alfredo acorda. Sente-se estranho, mas não sabe o porquê, senta em sua cama e tenta entender aquela sensação que toma conta do seu corpo. Nunca teve uma ressaca como aquela, não se sentia mal, se sentia simplesmente estranho. Vai para o chuveiro, mas não se arrasta como de costume, anda normalmente com uma sobriedade que é rara às 6 da manhã pra quem acaba de acordar de mais uma noite de esbórnia.

A água cai e ele sente que seu corpo está muito diferente, começa a estranhar seu corpo e sua mente. Passam-lhe pensamentos estranhos pela cabeça, o que seria aquilo tudo? Que música é essa que ele nunca ouviu tocando em sua cabeça sem cessar? Estaria ele ficando louco? Tudo isso passa por sua cabeça antes mesmo de tocar a mão na água pra verificar se está fria ou quente demais.

Finalmente entra debaixo do chuveiro e sente que a água está caindo com uma força desproporcional, como se tivesse embaixo de uma cachoeira dentro de seu banheiro. Passa as mãos no rosto molhado e sente a água deslizar por sua pele, não sabe dizer se aquela sensação é gostosa ou não. Olha para baixo, e percebe que ainda está vestindo seu pijama, e dessa vez se assusta de verdade, considerando a possibilidade de estar com algum problema sério.

Se enxuga e veste uma roupa seca, sente-se melhor. Liga o computador pra ver se esquece aquela besteira. Não há ninguém online, e ele continua incomodado com aquela música.. Que merda! Isso não pára nunca.

Não consegue se concentrar mais do que um minuto naquela porcaria de computador e se deita em sua cama com o violão, quem sabe se ele tentasse tocar aquela maldita música... nada!

Sai de casa e dá de cara com um deserto, vê muitas pessoas, todas parecem estar sofrendo, cada uma de um jeito, cada um na sua dor, cada um em um mundo. De repente Alfredo é tomado por uma sensação tão forte que começa a mover todo o seu corpo e começa a sentir uma grande dor, uma angústia indescritível, começa a lembrar de tudo aquilo que sempre se esforçou pra esquecer, começa a sentir tudo aquilo que ele fez questão de não sentir..

Alfredo resolve caminhar apressadamente no meio de todas aquelas pessoas e passa por um velho que parece ser o único são no meio de todo aquele caos (embora esteja com um chapéu e com um sobretudo vermelho surrado), e então esse velho lhe lança uma pergunta que será definitiva naquele momento:

-Você tem certeza que quer ver o que se encontra do outro lado?

Alfredo não sabe o que responder, se afasta e continua no seu caminho, trombando com várias pessoas no meio daquela multidão estranha e aquela maldita música.

Corre e cai, percebe que todos estão caídos, todos se contorcem, todos sofrem sozinhos suas doenças, cada um em seu próprio mundo desmoronando. -Por que não vi isso tudo antes?

E de repente avista um bebê, um lindo bebê em meio àquele inferno, e o bebê sorri. Alfredo se levanta, está descalço e sem camisa, só aquela velha calça jeans lhe cobre o corpo, ele sente um prazer indescritível, sua mente compreende tudo, seu corpo está leve como nunca, respira um ar tão puro quanto se possa imaginar, sente o sol ameno em seu rosto e ri como nunca havia imaginado rir um dia na vida, outros se levantam, se reconhecem, se olham, se abraçam, riem, choram e confraternizam como uma velha família que se reencontra após uma longa viagem.

4/14/2011

Madhyama Pratipad

Se você me pergunta quem eu sou...

Eu vou do quente ao frio
Eu vou do amargo ao doce
Eu vou do trantra à pornografia
Eu vou do ódio ao amor
Eu vou do lindo ao horrível
Eu vou do careta ao viciado
Eu vou de Buda à Jesus
Eu vou da construção à destruição

Busco o meio e vou aos extremos
Neles encontro a chave do meio
Quanto mais alta a árvore
mais profunda sua raiz deve ser

Se você insiste em perguntar:
- Mas quem é você? O que te define?
Eu te diria:
- A busca, a exploração, a construção de mim mesmo.

Uma vida dialética
de novas possibilidades
é o que busco a cada momento
crescer cada vez mais em tudo de mim
e cada vez maior oferecer ao mundo tudo o que sou.

4/13/2011

Viagem da alma


Sinto seu cheiro,
o perfume me inebria
Te seguro junto à mim
toque de pele macia

Olhos nos olhos
Eu sei o que fazer
mergulho no teu corpo
e isso me dá prazer

Alma sofre quando pensa
isso não tem que mudar
A vida sempre parece
um universo pra viajar

Eu me ligo em você
E você se liga em mim
Mas me ligo em outras mais
Tem muita rosa no jardim

E a alma ama quando sente
o que faz sair de si
Corpo, alma, dente, mente
De repente ela sorri

Motivo de insônia

Estive pensando muito esses dias sobre como é engraçado o modo como construímos o mundo, a realidade, a sociedade, o indivíduo. Se analisarmos bem a situação em que se encontra o mundo em geral veremos que vários problemas graves possuem solução muito simples. Construir uma sociedade diferente, muito melhor do que a atual é uma coisa relativamente fácil! Pensemos nas nossas posturas individuais, guiadas por vontades que nem são nossas na maioria das vezes, o que gera desconfiança, o que gera medo, mentiras, hipocrisia, intolerância, violência, etc.

Quando vemos a vida com uma perspectiva egoísta (o que eu posso ganhar?) ao invés de uma perspectiva altruísta (o que eu posso oferecer?) geramos separação ao invés de relação, e esse modo de separação de pessoas, classificando-as quanto à nacionalidade, preferência por um símbolo estampado em uma camisa de futebol, cor, idade, sexo, religião, classe social, posição política... sempre gera disputa, e acontece de um querer ser melhor que o outro, outro quer explodir um templo religioso porque ele não celebra o ser hipotético em que o seu grupo acredita, outro atira em todo mundo na escola, porque não aguenta toda pressão que foi socialmente colocada em cima dele.

Acho que deveríamos mudar seriamente nossa pirâmide de valores, e começarmos a pensar em novas formas de nos organizar. Temos que ensinar as crianças a serem cada vez mais inteligentes, cada vez mais amorosas, cada vez mais criativas, para começarmos a ter acesso à soluções mais inteligentes, amorosas e criativas! Muito simples.

Agora, o que oferecemos às nossas crianças? Novelas recheadas de violência, traição, roubos, diferença social banalizada, tratamento unilateral de assuntos sérios como drogas e sexo; jornais que nos fazem acreditar que o mundo é feito de catastrofes, tragédias, violência e jogos multibilionários; filmes idiotas que seguem o mesmo conteúdo das novelas; programas de auditório deploráveis; música ruim (em playback!)... ou seja, o lixo do lixo.

E temos que conviver além dos nossos muros, e com que pessoas gostaríamos de conviver, e o que podemos oferecer de bom pro mundo? Muitas pessoas só têm acesso à informações podres, e continuam reproduzindo esses padrões podres. Ao invés de ficar pensando em alternativas para criar um mundo totalmente separado dos outros seres humanos, cada vez mais segregados e hierarquizados dentro de seus muros, deveríamos pensar em oferecer o nosso melhor pro mundo, um sorriso, uma palavra, um texto, uma música, uma notícia boa... enfim, qualquer coisa que melhore essa energia coletiva que anda tão doente.